domingo, 4 de setembro de 2011

M 3 L – TELÊ SANTANA





Em 26 de julho de 1931, nascia Telê Santana da Silva, cidadão de Itabirito e do mundo. 80 anos de um Mestre do futebol que se foi em abril de 2006.

Telê foi um dos personagens mais marcantes que conheci em três décadas e tanto de profissão. Acompanhei a fase madura da carreira dele, no período que vai do Palmeiras do fim dos anos 1970 ao São Paulo vencedor de tudo do começo da década de 1990. Nesse meio-tempo, claro, houve o trabalho com a seleção, nos Mundiais de 82 e de 86. Impossível esquecer-se dele.

Telê tinha cara fechada – e muitas vezes ficava mesmo sisudo. Quando se invocava com um repórter, desviava o olhar, mas não deixava de responder às perguntas que lhe fossem feitas pelo interlocutor desafeto. Resposta breve, mas respondia. Não era curto e grosso. Era gentil a sua maneira. Com a perspectiva que só o tempo concede, a rabugice de Telê hoje soa suave.

Mas Telê era também divertido. Sabia contar histórias e piadas como poucos. Misturado a outras miudezas, guardava um papelzinho no bolso traseiro da calça em que anotava anedotas novas que considerava boas. Fui testemunha de seu talento em conversas de concentração em hotel ou em papo furado depois de treinos. Para ‘amolecer’ Telê, antes de uma entrevista mais brava, nada melhor do que fazê-lo reviver episódios passados de sua carreira. Descontraía.

Telê era afável com quem gostava, mas leal. Nunca passou notícia exclusiva, para beneficiar este ou aquele repórter ou veículo de comunicação. Não mentia, embora mineiramente deixasse pistas no ar. Nem era difícil acertar suas decisões. Bastava observar o que fazia nos treinos, os jogadores que utilizava. Batata! Na cara de todos estava o time que escalaria. Salvo engano, ele não recorria a treinos secretos e outras artimanhas.

Telê era prático. Não havia sofisticação em seus métodos e mesmo assim foi profundo conhecedor dos mistérios do esporte. Ele ensaiava jogadas à exaustão, repetia lances, ensinava os atletas até a bater na bola da maneira mais correta. Transformava profissionais medianos em peças eficientes nas equipes que comandava. O segredo do sucesso dele estava nisso – era um Mestre. E escalava quem mais se empenhasse nos treinamentos. Jogador indolente ou metido a esperto dançava miudinho nas mãos do professor.

A derrota para a Itália, na Copa de 1982, marcou a carreira de Telê. Mas marcou aqui, para alguns oportunistas de plantão, que durante anos o chamaram de pé-frio. Indelicadeza, injustiça e estupidez andam juntas no futebol.



O reconhecimento de Telê veio, para o mundo, na noite daquele mesmo dia 5 de julho, na sala de entrevistas do Sarriá. Jornalistas internacionais aplaudiram o técnico brasileiro e um deles resumiu o sentimento geral. “Senhor Santana, obrigado pelo futebol de sua seleção.”
Nós colocamos Telê no devido lugar só depois de colecionar taças no São Paulo. Ainda bem que conseguimos consertar essa injustiça. Por isso, ainda hoje dizemos: “Obrigado, mestre Telê.” Um personagem que faz falta ao Futebol.

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